Ser Pai

VAMOS COMEÇAR UM RELACIONAMENTO?

Minha luta mais dura foi com minha primeira mulher.
Muhammad Ali (1942 - )


Tenho certeza de que não foi assim que vocês começaram a namorar suas ex-mulheres. Se foi, devo dizer que algo já prenunciava mau agouro. Se desta forma abordaram suas atuais companheiras (para quem teve a coragem por um Chapter 2, como eu), corram para elas e expliquem-se, pois elas ainda não se recuperaram do susto da abordagem. Não é assim que se “começa um relacionamento”.

Um relacionamento não se faz enunciando-o com tal. Ele se constrói, aos poucos, com acertos e muitos erros. E, se houver vontades e desejos, ele se adapta às condições que se alteram a cada segundo. E para isso, ambos (ou mais, se você for moderninho ou pervertido) têm que não apenas desejar, mas agir para que as engrenagens que movimentam o “relacionamento” possam sempre ser lubrificadas com o óleo da paixão, desejo e companheirismo.

Diariamente, uma “relação” (pareço até aquele estereótipo, para mim falso, de mulher que deseja “pensar a relação”) depara-se com novos desafios: rotina, trabalhos, filhos, discordâncias políticas, quem vai lavar a louça, quem leva as crianças à escola, etc. Ou se quer e se tenta a todo instante e momento fazer valer o amor, paixão, ou o que você quiser chamar, acima de todas as questões cotidianas e não cotidianas, ou se levanta os braços e grita “pronto, desisto!”

A verdade é que tornou-se mais fácil, hoje em dia, de tomar esta atitude. É muito mais aceitável socialmente separar-se do que nos anos 40, quando meus pais se casaram. Nosso código civil já prescreve soluções para situações impensadas como divórcios, relações estáveis, homossexualismo, etc. Há o que melhorar? Sim, claro que há. E ainda bem que assim o é, pois nossa sociedade ocidental é caracterizada pelos conceitos de progresso e mudança.

Apesar da maior aceitação e facilidade em separar-se, ainda creio nas possibilidades de tentar resgatar o amor num casal. Não é fácil, todos sabemos, desde a época que tentamos “gostar de novo” de nossa namorada de adolescência. Não é fácil, mas é necessário. Muita coisa está em jogo. Um passado, que você ainda idealiza. Um presente, que você sabe que tem espinhos. E um futuro, que você sonhou e planejou com sua cara-metade. O presente muitas vezes inclui FILHOS, o que necessariamente significa futuro.

Sim, pelos filhos, muitas e muitas vezes, casamentos e relacionamentos são mantidos. Certas vezes, com bons resultados, porque o casal soube como reanimar “aquela velha chama do amor”. Outros, às custas dos filhos, paradoxalmente, vão envelhecendo e apodrecendo a olhos vistos. O medo da solidão dos quase ex cônjuges acaba se escudando no conceito de “não quero que meus filhos sofram se nos separarmos”.
Lutem sempre pela relação, sempre realimentem o amor, companheirismo e desejo que tenham nutrido pelo outro. Repito: lutem. Mas chega o momento que não há mais razões para manter uma situação medíocre em termos afetivos, ou mesmo geradora de rancores. Os filhos VÃO sofrer mais com isso.

Minha coluna quinzenal tratará de assuntos relativos à separação. Um universo bem amplo, como todos conhecemos.

A separação e seus momentos, como lidar com família e amigos, trabalho, e muito mais.

Dentro deste “muito mais” estão incluídos nossos diamantes: nossos filhos. Isso significa TUDO o que lhes diz direito. Visitações, guardas, brinquedos, roupas, pensão, escola, juizes, buscas e apreensões, confissões de pai, brigas com filhos, relação com companheira, etc. Um momento, mencionei “companheira”? Sim, desejo escrever sobre esta que será a mãe de nossos filhos, sem ser mãe. A que vai segurar barras que não imaginávamos que houvesse alguém disposta a segurar. Uma mulher que aceita o “pacote de problemas” que trazemos à sua vida. E o “pacote” inclui uma ex mulher, que muitas vezes será tão presente que balançará sua relação.

Grande parte do que escrevo não é auto-biográfico, que fique claro, mas fruto do que aprendi em observação. Outra parte é baseada em minha própria experiência, como homem separado e depois casado novamente com alguém extraordinariamente especial e aceitadora de “pacotes”, como pai de duas filhas maravilhosas. Como vários homens, passei por situações desconfortáveis, desagradáveis e inaceitáveis. Situações pelas quais não imaginei, nem nos piores pesadelos, passar. E como homem, venci e venço estes obstáculos, não sem chorar.

Tendo escrito tudo isto, peço a vocês de forma paradoxal.... vamos começar um relacionamento? Coloco as regras: eu escrevo sobre o divagado e mencionado acima e vocês lêem. Se vocês desejarem, escrevam comentários sobre o que acharam, gostaram e não gostaram. E, se eu tiver tempo e vontade (uma das bases de um relacionamento é a sinceridade, ok?), responderei. Ah, se todos os acordos fossem tão simples assim.... e se todos os respeitassem.....

Na próxima quinzena de visitação, escreverei sobre Adelaide, a ex mulher de todos. Contarei também como foi a minha visitação com minhas filhas, sei que estão todos interessados e torcendo.

Um abraço a todos!

Jayme Akstein.
Autor do livro “Manual do Homem Separado”, pela Editora 7 Letras, a ser lançado.

Written by Jayme Akstein.

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