RECONHECER O ERRO HUMANIZA AS RELAÇÕES
Cada vez mais, por necessidade e/ou por puro envolvimento e vontade, os homens participam ativamente da educação de seus filhos. Isso é muito bom para todos: para os filhos, que têm a possibilidade de participar de dois estilos bem diferentes de amar e educar, para a mulher, que não assume sozinha a responsabilidade pelas decisões tomadas com os filhos, e para o pai, que tem a grande chance de acompanhar o desenrolar da vida dos filhos e deixar nela suas marcas, sua herança.
Cada vez que vou a uma reunião de pais e vejo aumentar a presença masculina, constato, pelo tipo de intervenção que pais e mães fazem, que educar com a participação dos dois parece ser mais difícil, parece exigir muito mais de ambos. Principalmente porque, sobre a melhor forma de conduzir o processo educativo, nem sempre ambos estão de acordo. Infelizmente, muitos adultos acreditam que o conflito entre pai e mãe nesses momentos é prejudicial aos filhos. Ao contrário: é bastante salutar porque os pais aprendem, desse modo, a negociar entre si antes de fazê-lo com os filhos.
Isso sem contar, é claro, que duas opiniões diferentes só podem enriquecer a visão de quem educa, isso se o casal decide enfrentar o diálogo para chegar junto a uma conclusão. Mas parece que essa é justamente a parte mais árdua da tarefa. Mães e pais não devem desistir dessa empreitada, nem mesmo quando um deles, sozinho, decide tomar uma atitude com os filhos que logo se revela radical demais. É o caso de um nosso leitor, que cito como exemplo por representar de maneira significativa o comportamento de muitos pais.
Como os filhos não costumam ter um bom aproveitamento escolar, ele vinha cobrando duramente o cumprimento das obrigações. Está certo, um dos papéis ingratos de ser pai ou mãe é cobrar coisas dos filhos, e isso deve ser feito com firmeza, mas com encorajamento, para o filho enfrentar os desafios e deveres com consciência e responsabilidade.
Bem, o fato é que um belo dia nosso leitor chegou tarde da noite em casa, depois de um dia exaustivo de trabalho e com a mulher em viagem de trabalho, e encontrou um filho com a tarefa escolar sem fazer. Como reagiu? Sentou-se com os dois para conversar, mas o que fez foi lamentar tudo o que vinha acontecendo e, a seguir, fez o que achou ser uma negociação. Listou os deveres e direitos dos filhos -por escrito- e prometeu não mais falar com eles até o final do corrente ano. E foi além, segundo suas próprias palavras: avisou que, se as coisas não mudassem, os filhos perderiam o pai, e a mulher perderia o marido. Depois de tudo, nosso leitor passou a sofrer sozinho e pergunta se há como recuperar o que foi feito.
Devo dizer que sempre é tempo de assumir um equívoco cometido na educação dos filhos. E esse tipo de atitude não fragiliza e muito menos tira a autoridade dos pais. Basta ter a humildade de dizer que todo mundo erra, que todo mundo perde a paciência e exagera, que, uma hora ou outra, perde até o bom senso. Reconhecer esse fato e modificar o que foi feito naquela hora humaniza as relações familiares e autoriza mais ainda os pais em sua missão.
Muitas mães reclamam da excessiva severidade dos maridos quando eles resolvem intervir diretamente com os filhos, como aconteceu com o leitor de nosso exemplo. Talvez seja falta de jeito ou até por tradição que eles ajam assim, mas pode ser diferente. Basta começar com a famosa e velha conhecida conversa entre o casal. É assim que um pode segurar o outro em seus limites, que um pode cobrir o outro em suas fraquezas. E, principalmente nesses momentos de explosão que podem acontecer com todos, um pode confortar e encorajar o outro para juntos reverterem a situação.
Ameaçar é diferente de negociar; deixar de conversar com os filhos não tem efeito educativo, mas pode ter reflexos negativos na auto-imagem da criança; e a noção de tempo para a criança é bem diferente da do adulto. Essas são as dicas para os pais. E, como o termo negociação tem sido motivo para muitas questões dos pais, voltaremos ao tema. Está combinado.
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ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Cada vez que vou a uma reunião de pais e vejo aumentar a presença masculina, constato, pelo tipo de intervenção que pais e mães fazem, que educar com a participação dos dois parece ser mais difícil, parece exigir muito mais de ambos. Principalmente porque, sobre a melhor forma de conduzir o processo educativo, nem sempre ambos estão de acordo. Infelizmente, muitos adultos acreditam que o conflito entre pai e mãe nesses momentos é prejudicial aos filhos. Ao contrário: é bastante salutar porque os pais aprendem, desse modo, a negociar entre si antes de fazê-lo com os filhos.
Isso sem contar, é claro, que duas opiniões diferentes só podem enriquecer a visão de quem educa, isso se o casal decide enfrentar o diálogo para chegar junto a uma conclusão. Mas parece que essa é justamente a parte mais árdua da tarefa. Mães e pais não devem desistir dessa empreitada, nem mesmo quando um deles, sozinho, decide tomar uma atitude com os filhos que logo se revela radical demais. É o caso de um nosso leitor, que cito como exemplo por representar de maneira significativa o comportamento de muitos pais.
Como os filhos não costumam ter um bom aproveitamento escolar, ele vinha cobrando duramente o cumprimento das obrigações. Está certo, um dos papéis ingratos de ser pai ou mãe é cobrar coisas dos filhos, e isso deve ser feito com firmeza, mas com encorajamento, para o filho enfrentar os desafios e deveres com consciência e responsabilidade.
Bem, o fato é que um belo dia nosso leitor chegou tarde da noite em casa, depois de um dia exaustivo de trabalho e com a mulher em viagem de trabalho, e encontrou um filho com a tarefa escolar sem fazer. Como reagiu? Sentou-se com os dois para conversar, mas o que fez foi lamentar tudo o que vinha acontecendo e, a seguir, fez o que achou ser uma negociação. Listou os deveres e direitos dos filhos -por escrito- e prometeu não mais falar com eles até o final do corrente ano. E foi além, segundo suas próprias palavras: avisou que, se as coisas não mudassem, os filhos perderiam o pai, e a mulher perderia o marido. Depois de tudo, nosso leitor passou a sofrer sozinho e pergunta se há como recuperar o que foi feito.
Devo dizer que sempre é tempo de assumir um equívoco cometido na educação dos filhos. E esse tipo de atitude não fragiliza e muito menos tira a autoridade dos pais. Basta ter a humildade de dizer que todo mundo erra, que todo mundo perde a paciência e exagera, que, uma hora ou outra, perde até o bom senso. Reconhecer esse fato e modificar o que foi feito naquela hora humaniza as relações familiares e autoriza mais ainda os pais em sua missão.
Muitas mães reclamam da excessiva severidade dos maridos quando eles resolvem intervir diretamente com os filhos, como aconteceu com o leitor de nosso exemplo. Talvez seja falta de jeito ou até por tradição que eles ajam assim, mas pode ser diferente. Basta começar com a famosa e velha conhecida conversa entre o casal. É assim que um pode segurar o outro em seus limites, que um pode cobrir o outro em suas fraquezas. E, principalmente nesses momentos de explosão que podem acontecer com todos, um pode confortar e encorajar o outro para juntos reverterem a situação.
Ameaçar é diferente de negociar; deixar de conversar com os filhos não tem efeito educativo, mas pode ter reflexos negativos na auto-imagem da criança; e a noção de tempo para a criança é bem diferente da do adulto. Essas são as dicas para os pais. E, como o termo negociação tem sido motivo para muitas questões dos pais, voltaremos ao tema. Está combinado.
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ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.