Ser Pai

SÓ SE AMA O QUE SE CONHECE

Conhecer é, simplesmente, assimilar o objeto pessoal. Quem quer ser amado procura provocar o interesse do outro e para provocar o interesse é preciso ser-lhe necessário de alguma forma. Basicamente, a afetividade é o interesse por uma pessoa, coisa ou animal. O “interesse” por uma pessoa ou coisa revela que essa pessoa ou coisa satisfaz uma necessidade da pessoa que se interessa. Piaget diz que o “grau de interesse” (motivação) revela a intensidade da necessidade. Quem quer ser amado procura provocar o interesse do outro e para provocar o interesse é preciso ser-lhe necessário de alguma forma.

Para que se estabeleça afetividade entre duas pessoas, por exemplo, é preciso que o grau de interesse suscitado seja de tal nível que sustente o processo de “conhecer” esta pessoa. Para que se queira conhecer é preciso que o objeto interesse, isto é, é preciso que o objeto corresponda a uma necessidade. Na medida em que o conhecimento vai se esgotando, o grau de interesse cai; só nos interessamos pelo novo.

No encontro ou contato entre duas pessoas, o primeiro interesse é suscitado pelo “objeto em si” (se a relação é entre adultos, o interesse decorre da beleza, aspecto físico, linguagem, status, etc). Se a relação é entre criança e adulto, o interesse é suscitado pela capacidade do adulto de satisfazer os desejos da criança.

A relação da mãe e da criança é deste último tipo. Na medida em que a criança se desenvolve, seu interesse se diversifica e já não a satisfaz o objeto em si; começam a valer, agora, as modalidades múltiplas de relações, daí porque, conforme cresce, começa a “gostar” mais do pai.

Como, então, conservar a relação mãe-filho e professor-aluno ? Tornando-se fonte de “problemas” para a criança, elevantando, progressivamente, o nível de relacionamento com ela, sendo uma fonte de “desequilibração”, isto é, continuando a ser uma fonte de interesse. Muitos pais preocupam-se em explicar as coisas quando a atitude pedagógica saudável seria “complicar” (desequilibrar) a situação, para manter a criança interessada.

O amor – como se vê – não é um sentimento difuso e inexplicável: só se ama a pessoa que representa um interesse para nós. O amor é também um fenômeno intelectual: é o desejo de conhecer a pessoa amada. Só se ama o que se conhece e só se conhece aquilo que se ama. Amor e conhecimento são duas variáveis no mesmo fenômeno, assimilar o meio.

Note-se que para J.Piaget “conhecer” é assimilar o objeto (e o objeto pode ser uma pessoa). Conhecer é manipular, “saber usar” o objeto.

A relação do sujeito com o objeto é regulada pelo grau de satisfação que o objeto representa para o sujeito assimilador. Para que o interesse se mantenha é preciso que o objeto apresente algum grau ou tipo de resistência à assimilação, obrigando o assimilador a fazer acomodações (adaptações). A resistência aumenta o tônus da assimilação.

Adaptação: Piaget para Principiantes; LIMA, Lauro O: Summus, 1980 4ª ed. pp.68-71

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