ESTÁ NA HORA DE MUDAR A LEI
ESTÁ NA HORA DE MUDAR A LEI?
Por Jan Hunt, Psicóloga Diretora do "The Natural Child Project"
Aconteceu recentemente em um shopping center: um homem de seus vinte anos empurrando um carrinho no meio da multidão. Seu filho de três ou quatro anos, sentado dentro do carrinho, chorava, gritava e vociferava histericamente, e continuou fazendo isso até eles saírem do shopping quinze minutos depois. Ninguém perguntou ao homem qual era o problema. Ninguém se ofereceu para ajudá-lo a acalmar a criança, ninguém - nem eu, escritora de assuntos infantis que venho tratando há anos desse verdadeiro tabu que impede as pessoas de ajudarem os filhos dos outros. Talvez as expectativas injustas de nossa sociedade em relação ao comportamento perfeito das crianças tenham impedido esse pai de socorrer seu filho em público. De qualquer forma, ele empurrou o carrinho no meio da multidão, parecendo alheio às necessidades da criança.
Comerciantes saíram das lojas e se juntaram àqueles de nós que observávamos a cena com preocupação, mas também não disseram nada. Não sabíamos o que dizer, então não dissemos nada. Ou dissemos? O silêncio também diz alguma coisa: "não nos importamos com seu sofrimento. Seu pai está certo ao ignorar seus brados. Quando você for pai também deverá ignorar os sentimentos de seu filho". Mas muitos de nós pensamos se ele não estaria gravemente ferido ou doente, ou mesmo, como depois me ocorreu - se ele não estaria sendo raptado. Afinal, de que outro modo reagiria uma criança raptada, senão com lágrimas, gritos e desespero?
Com freqüência em nossa sociedade o choro das crianças é ignorado (não teríamos atendido imediatamente essa pessoa tão infeliz se ela fosse um adulto?) Teria sido mais agradável se a criança tivesse explicado tranqüilamente de que necessitava. Mas uma criança que esteja doente, com raiva, frustrada ou muito assustada não consegue falar a respeito; ela só pode chorar até alguém atendê-la ou até desistir, desesperada. E não devemos subestimar a gravidade do desespero: as crianças, em sua inocência, assumem que nós, pais e adultos, estamos certos e fazemos tudo o que devemos fazer. Se não fizermos nada, a criança só pode concluir que ela não é amada, porque não é digna de amor. Não está a seu alcance concluir que estamos ignorando seu choro porque estamos muito ocupados, cansados ou receosos de ferir os sentimentos de seu pai.
O choro nos perturba, mas é para isso mesmo que ele existe: o choro é o modo da natureza assegurar que seres humanos indefesos recebam a atenção e os cuidados de que necessitam. Como Jean Liedloff escreveu em 'The Continuum Concept', o choro de uma criança "é exatamente tão sério quanto seu ruído sugere". Embora o choro e a gritaria sejam frustrantes para os pais e outros adultos, a criança é muito jovem e inexperiente para lidar com o motivo do choro, seja ele qual for. É evidente que é responsabilidade dos adultos suprir as necessidades de alimentação, cuidados físicos e amor da criança - não é responsabilidade da criança suprir nossa necessidade de paz e sossego no shopping.
Por mais estressante que seja, o choro da criança não pode ser visto como uma luta de poder entre pai e filho ( ou entre o pai e um estranho que setente ajudar), mas como um pedido de ajuda, um presente da natureza para assegurar que as crianças recebam os cuidados de que necessitam e merecem.
Em vários países europeus é proibido por lei bater ou mesmo intimidar os filhos; seria considerado insensível, injusto e perigoso ignorar as lágrimas de uma criança assustada de quatro anos de idade. Infelizmente ainda não temos essas leis na América do Norte. Mas existe esperança: a organização internacional EPOCH (1) ('End Punishment for Children') ( 'Fim ao Castigo para as Crianças') está trabalhando para provocar mudanças sociais e legais. O grupo tem vários objetivos: assegurar que as crianças tenham o direito à mesma defesa contra a agressão que têm hoje os adultos, ampliar a consciência do público sobre as repercussões nocivas e duradouras do castigo físico e sua progressão potencial para o abuso, e promover um amplo programa educativo que apresente e incentive métodos construtivos de se obter a cooperação dos filhos.
1. A associação EPOCH Mundial fornece informações, folhetos e posters. Veja também o artigo da EPOCH , "Hitting People is Wrong - and Children are People Too" (é errado bater nas pessoas, e crianças também são pessoas) . Os endereços da EPOCH são:
EPOCH-Estados Unidos
155 West Main Street, Suite 100-B
Columbus, OH 43215
Tel: (614)221-8829
Fax: (614)228-5058
E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
EPOCH-Mundial (Inglaterra)
Peter Newell, Executive Director
77 Holloway Road, London N7 8JZ
UK
Tel: 01144171-700 0627
Fax: 01144171-700 1105
Por Jan Hunt, Psicóloga Diretora do "The Natural Child Project"
Aconteceu recentemente em um shopping center: um homem de seus vinte anos empurrando um carrinho no meio da multidão. Seu filho de três ou quatro anos, sentado dentro do carrinho, chorava, gritava e vociferava histericamente, e continuou fazendo isso até eles saírem do shopping quinze minutos depois. Ninguém perguntou ao homem qual era o problema. Ninguém se ofereceu para ajudá-lo a acalmar a criança, ninguém - nem eu, escritora de assuntos infantis que venho tratando há anos desse verdadeiro tabu que impede as pessoas de ajudarem os filhos dos outros. Talvez as expectativas injustas de nossa sociedade em relação ao comportamento perfeito das crianças tenham impedido esse pai de socorrer seu filho em público. De qualquer forma, ele empurrou o carrinho no meio da multidão, parecendo alheio às necessidades da criança.
Comerciantes saíram das lojas e se juntaram àqueles de nós que observávamos a cena com preocupação, mas também não disseram nada. Não sabíamos o que dizer, então não dissemos nada. Ou dissemos? O silêncio também diz alguma coisa: "não nos importamos com seu sofrimento. Seu pai está certo ao ignorar seus brados. Quando você for pai também deverá ignorar os sentimentos de seu filho". Mas muitos de nós pensamos se ele não estaria gravemente ferido ou doente, ou mesmo, como depois me ocorreu - se ele não estaria sendo raptado. Afinal, de que outro modo reagiria uma criança raptada, senão com lágrimas, gritos e desespero?
Com freqüência em nossa sociedade o choro das crianças é ignorado (não teríamos atendido imediatamente essa pessoa tão infeliz se ela fosse um adulto?) Teria sido mais agradável se a criança tivesse explicado tranqüilamente de que necessitava. Mas uma criança que esteja doente, com raiva, frustrada ou muito assustada não consegue falar a respeito; ela só pode chorar até alguém atendê-la ou até desistir, desesperada. E não devemos subestimar a gravidade do desespero: as crianças, em sua inocência, assumem que nós, pais e adultos, estamos certos e fazemos tudo o que devemos fazer. Se não fizermos nada, a criança só pode concluir que ela não é amada, porque não é digna de amor. Não está a seu alcance concluir que estamos ignorando seu choro porque estamos muito ocupados, cansados ou receosos de ferir os sentimentos de seu pai.
O choro nos perturba, mas é para isso mesmo que ele existe: o choro é o modo da natureza assegurar que seres humanos indefesos recebam a atenção e os cuidados de que necessitam. Como Jean Liedloff escreveu em 'The Continuum Concept', o choro de uma criança "é exatamente tão sério quanto seu ruído sugere". Embora o choro e a gritaria sejam frustrantes para os pais e outros adultos, a criança é muito jovem e inexperiente para lidar com o motivo do choro, seja ele qual for. É evidente que é responsabilidade dos adultos suprir as necessidades de alimentação, cuidados físicos e amor da criança - não é responsabilidade da criança suprir nossa necessidade de paz e sossego no shopping.
Por mais estressante que seja, o choro da criança não pode ser visto como uma luta de poder entre pai e filho ( ou entre o pai e um estranho que setente ajudar), mas como um pedido de ajuda, um presente da natureza para assegurar que as crianças recebam os cuidados de que necessitam e merecem.
Em vários países europeus é proibido por lei bater ou mesmo intimidar os filhos; seria considerado insensível, injusto e perigoso ignorar as lágrimas de uma criança assustada de quatro anos de idade. Infelizmente ainda não temos essas leis na América do Norte. Mas existe esperança: a organização internacional EPOCH (1) ('End Punishment for Children') ( 'Fim ao Castigo para as Crianças') está trabalhando para provocar mudanças sociais e legais. O grupo tem vários objetivos: assegurar que as crianças tenham o direito à mesma defesa contra a agressão que têm hoje os adultos, ampliar a consciência do público sobre as repercussões nocivas e duradouras do castigo físico e sua progressão potencial para o abuso, e promover um amplo programa educativo que apresente e incentive métodos construtivos de se obter a cooperação dos filhos.
1. A associação EPOCH Mundial fornece informações, folhetos e posters. Veja também o artigo da EPOCH , "Hitting People is Wrong - and Children are People Too" (é errado bater nas pessoas, e crianças também são pessoas) . Os endereços da EPOCH são:
EPOCH-Estados Unidos
155 West Main Street, Suite 100-B
Columbus, OH 43215
Tel: (614)221-8829
Fax: (614)228-5058
E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
EPOCH-Mundial (Inglaterra)
Peter Newell, Executive Director
77 Holloway Road, London N7 8JZ
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Fax: 01144171-700 1105