Ser Pai

AQUI JAZ UM PAI!

Separação! Como o próprio nome sugere, ninguém sai “vitorioso”. Tudo que foi construído tem de ser dividido.

Começa-se pelo amor que impulsionou o casamento, passando pelos sonhos e as aquisições que foram feitas.

O amor, às vezes não é muito difícil de dividir, afinal, o ato da separação pressupõe que ele terminou, quando não se transforma em raiva, seu sentimento simétrico. Inacreditavelmente conseguimos sentir os dois na mesma intensidade. Óbvio, somente em tempos diferentes. O amor quando casamos e a raiva quando separamos.

Entretanto, o tempo é um remédio infalível. Cada um vai para seu lado e aos poucos a vida nos força a seguir um novo rumo. Alguns vislumbram ficar solteiros novamente, outros acreditam que, apesar da separação é possível viver um novo amor e outros já se separam casados. Explico-me, algumas pessoas só conseguem viver com um parceiro(a) do lado, antes de se separar necessitam ter outro relacionamento em andamento.

Seja qual for à situação acima escolhida, naturalmente as coisas vão se encaixando. Claro, da dor ninguém escapa, por mais aliviado que esteja pela separação.

Pois bem, eu não me daria o ridículo de estar escrevendo para dizer que tudo é muito fácil e o tempo cura as mazelas da separação, afinal, na grande maioria dos casos, tem algumas “construções” que não podem ser divididas: os filhos.

Pronto! Esses seres maravilhosos, que sonhamos, desejamos e às vezes, algumas mulheres por dificuldades de engravidarem, passam por exames dolorosos, além da ansiedade e a auto tortura psicológica de pensar que pode não ser fértil; fora o homem que, quando o médico da mulher quer se certificar que o problema é dela, lhe pede para fazer, acredito eu, pois não sou médico, o único exame inventado até então: o espermograma. Você já passou ou se imagina numa dessa? Você receberá um pote de uma enfermeira, ela olhará nos seus olhos e dirá: “ta vendo esse pote? Vá naquela cabina ali e manda bala”.

Você sairá daquela cabina com a mais absoluta certeza que, todos na sala sabiam o que você estava fazendo. Tudo pelos filhos, mesmo que eles ainda não nasceram.

Pois é, independente do método da “construção” do seu filho(a), a palavra separação não cabe para pessoas. E agora?
Já viu alguém pedir para o juiz para ficar com o braço esquerdo e cede o direito se a outra parte ceder o joelho esquerdo e puder ficar com o nariz? Impossível, afinal, uma pessoa só continua sendo uma pessoa com todos os seus órgãos e membros no lugar onde se encontrava, salvo se por algum acidente ela tenha perdido e continuasse viva.

Ademais, é de um egoísmo, quase que inevitável, na hora de uma separação, os pais brigarem para ter seus filhos por perto.

Aqui jaz um pai! É! Nesse embate entre com quem ficará os filhos, exceto quando a mulher tem uma conduta considerada pela nossa sociedade como imoral – usuária de drogas, prostituta ou ladra – não tenha dúvidas meu amigo, os filhos ficarão com a mãe, salvo raras exceções.

É claro que existem inúmeras situações. Digamos que a principal pode-se considerar a idade das crianças. Se as crianças forem adolescentes, um juiz até pode ouvi-las no sentido de deixá-las escolher com quem quer passar a morar, uma vez que, os pais viverão em casas separadas.

Agora, e se a criança for pequena, ainda não fala ou não tem o mínimo de maturidade para entender o que está ocorrendo? Não tem jeito. Se os pais não se entendem a justiça terá de sentenciar.

Você que é homem e está nessa situação, comece a chorar meu amigo. Pode implorar para o juiz que você é um excelente pai, que ama seus filhos, que sempre participou, pode provar, pode levar um milhão de testemunhas. O magistrado, geralmente com uma cara sisuda, que só de adentrar a sala dele e olhar para sua face você pode jurar que perdeu a causa, sem a menor perda de tempo dará a guarda dos seus filhos a mãe deles, ou seja a sua ex-esposa.

A você ficará o dever de pagar uma pensão e, diga-se de passagem, se não pagar vai parar na cadeia. Não é irônico? Você ama seus filhos e por eles pode até parar na cadeia. Me esqueci, também lhe é dado o direito de ver seus filhos a cada quinze dias, algumas horas. Se tiver muita sorte, o juiz deixará você retirar seus filhos da casa da ex-esposa e terá de devolvê-los em horário predeterminado. Caso contrário, você poderá vê-los dentro da casa dela. Não é gostoso? Você se separa, salvo raras exceções, num clima tenso, de brigas e pra ver seus filhos você terá no mesmo dia e na mesma quantidade de horas que te deixaram, nada mais nada menos que, a sua ex-esposa! Aliás, te olhando com cara de ódio e reparando em cada movimento que você faz para poder provar que, você não pode chegar perto dos seus filhos da próxima vez que ela te processar.

Bom, como um bom pai, determinado e batalhador que você é, não desistirá e conversará com seu advogado para saber quais são as possibilidades de tornar suas visitas mais saudáveis e mais amplas. Olhe, se seus filhos tiverem mais de 3 ou 4 anos, lhe encorajo a tentar. Agora, se eles tem idades inferiores a isso, esquece. Vai levar um “NÃO” enfático na cara e torça para o juiz não lhe dar uma lição de moral na frente de todo mundo. Nesse caso faça o seguinte, ao invés de gastar com um advogado, convide alguém que está na mesma para uma cerveja e tente rir da situação dele enquanto ele ri da sua.

É a lei! Porém, somos obrigados a fazer uma “mea culpa”. A lei é feita pelos nossos digníssimos deputados, os quais estão lá através do nosso voto.
Pense bem quando for votar da próxima vez!

Mas não pense que pára por ai. Feito a homologação, na frente do sisudo, sairá um monte de folhas de papeis, que você terá de seguir ao pé da letra o que está escrito caso não queira perder o pouco que lhe resta. Lhe afirmo, exceto a pensão. Essa você nunca perderá o dever. Teoricamente não temos do que reclamar com relação a esse ponto, afinal a pensão é para dar o sustento dos filhos que amamos.

Porém (odeio quando minha advogada fala essa palavra. Virá sempre com mais uma restrição. Pode esperar.), você nunca terá muita certeza se esse dinheiro irá para seus filhos. Ela (a ex-esposa) não lhe deve a menor satisfação do que fará com ele. Se ela for para baixada santista e pagar a cerveja do novo namorado com a pensão que você paga, o máximo que você poderá fazer e ficar amigo dele e pedir para ele te enviar algumas latas. Seja irônico, diga: “pô, manda umas latinhas pra mim, afinal foi eu quem paguei a conta!”. Você não quer acreditar? Então engane sua mente. Como nossa moeda é ao portador, digo, é transferível sem a necessidade de assinar, finja que a nota com que ela pagou a conta do novo namorado é diferente da nota que você depositou na conta dela.

Pois bem, dado que agora a sua paternidade se dá regida por umas folhas de papéis, sua vida passará por mais confusão.

Você terá de por em prática todas as aulas de análise sintática que aprendeu na escola. Lembra disso? Isso foi uma lição que aprendi com a vida.
Eu sempre perguntava aos professores de língua portuguesa pra que iria usar análise sintática. Nenhum professor me deu explicação muito convincente. O que você tinha de fazer é aprender aquilo e torcer para que não fosse em vão. Peço desculpas a todos eles. Inclusive por não ter estudado mais na época.

É isso. Antes de visitar seus filhos você terá de ler as tais folhas de papeis e saber o que você pode ou não fazer. Você costumava levar seus filhos na sorveteria próxima a sua casa? Ta escrito isso lá no papel? Não? Então esquece. Se a outra sisuda, sua ex-esposa, não autorizar, você vai ficar plantado no sofá com ela te vigiando.
Posso lhe afirmar que essa é a menos pior. A pior mesmo é quando está escrito e ela diz que não está. Será algo assim: “essa vírgula na quinta linha separando o verbo do objeto deixa claro que você não tem direito”. É isso. Por mais que os professores de português berrem que não se coloca vírgula entre sujeito, verbo e objeto, se essa maldita vírgula estiver lá e ela achar que muda o sentido da frase, você estará num novo embate!

E é obvio, como vocês se dão muito bem, às quatro ou cinco horas que você tinha para visitar seus filhos serão perdidas na interpretação daquelas folhas de papeis e como a compreensão reina no ambiente, você sairá de lá perdendo, pois o papel, em tese, serve para os dois, mas a guarda é dela. Salvo se você pagar um advogado e levar a dúvida ao juiz, assim permanecerá.
Você pode até ter razão perante o seu advogado, o advogado dela e do espírito santo, mas como ela tem a guarda você só tem o direito de entrar com o processo, esperar a lentidão do judiciário e rezar para que o juiz entenda que você está correto. Nisso, aquele feriado que você sonhou estar com seus filhos, só ano que vem!

Entretanto, para que isso não ocorra mais vezes, você solicita seu advogado as devidas providências. Eis que, seu advogado volta com a péssima notícia de que o juiz, que não é amante da sua ex-esposa, entende da mesma forma que ela, ou seja, para o bem da criança você não tem direito.
Seu advogado, também indignado, afinal até o advogado da sua ex-esposa lhe deu razão, tentou mostrar para o juiz, com toda cautela, óbvio, que os termos da separação lhe dava aquele direito. Nada feito!

Então, seu advogado ficará perplexo e acontecerá um diálogo mais ou menos assim:

- meu querido cliente, por mais que tenhamos razão, o juiz diz que nada fará, pois disse que vocês tem de se entenderem.

- mas não nos entendemos e como isso não ocorre nada posso fazer?

- pois é, disse a ele que não havia entendimento, mas ele disse que por isso os juizes costumam dar o mínimo ao pai, pra forçar os casais a entrarem num acordo.

- não existe outra saída?

- podemos abrir um novo processo, mas com grandes chances de cair com o mesmo juiz e ouvirmos juntos o que estou lhe transmitindo sozinho.

É assim. Os juizes dizem dar o mínimo ao pai para que o casal, ou melhor, ex casal, entre num acordo.

Acho que podemos pressupor que, acordo requer que duas ou mais partes, nesse caso duas, o pai e a mãe das crianças, tenham interesse comum em entrar num consenso. Ora, a mãe tem a guarda, vive com seus filhos diariamente. O único interessado em ter uma situação melhor é o pai, então não temos uma situação a acordar, temos um pai querendo melhorar a qualidade e quantidade da convivência com o filho e a mãe, sua ex-esposa, com plenos poderes para te dizer “NÃO” com o aval do representante da lei, ou seja, para a infelicidade geral dos pais separados, a sua paternidade estará nas mãos da mulher que mais lhe odeia no momento. Concluindo: aqui jaz um pai. Obrigado senhor juiz.

A partir disto, além de reconhecer que intrinsecamente a lei aufere plenos poderes para quem detém a guarda, na maioria das vezes a mãe, resta ao pai o exercício de descobrir qual a forma que ele pode arrumar, sem advogado, sem sisudo e sem processo, de ter uma maior convivência com seus filhos.

Em alguns casos, para a infelicidade dos filhos e da relação pai-filho(a), o pai acaba desistindo. Nem todos os homens agüentam levar sucessivos “NÃO” na cara e continuar lutando. A vida precisa continuar. Se o indivíduo pára sua vida para a todo instante descobrir qual o próximo argumento que irá usar para um melhor convívio, o resto se danifica. O emprego, a vida social, os estudos, etc.; até por que, se perder o emprego terá sérios problemas com a justiça. A pensão tem de ser paga.

E nesse caso, como fica a relação pai e filho(a)? O juiz disse que é aquilo e acabou; quer mais se entendam; sua ex-mulher não autoriza um segundo além das folhas de papéis. Eu ainda não sei, pois minha filha não sabe falar, mas vai chegar um dia que nossos filhos irão indagar: por que você foi tão ausente? Saia justa amigão!

Eu acho que não existe processo pra isso, mas só faltava, depois de tudo que você tentou para conviver mais com seus filhos, eles ainda te processarem por você ter os visitados somente em finais de semanas alternados. Seria a morte!

Para finalizar essa parte, ressalvo meu todo respeito aos senhores magistrados, pois, por mais que a decisão deles nos deixem indignados, eles são obrigados, da mesma forma que nós, pais separados, a seguir uma lei. A eles cabem sentenciá-la, a nós segui-la.

Os chamei aqui de sisudo, pois isso é inegável. Todos eles, ao menos na hora da audiência, aparentam uma expressão sisuda.

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